terça-feira, 27 de novembro de 2007

Broche

"(...) Era uma caixa de charutos em que minha amiga guardava as receitas que recortava dos jornais e outras bobagens, bem como o broche de camafeu que seu pai lhe dera muito tempo antes. Além do valor sentimental, a imaginação dela conferira àquele objeto uma rara preciosidade; sempre que tínhamos algum motivo de grave queixa contra suas irmãs ou tio B., ela me dizia: 'Deixe estar, Buddy. Vamos vender meu camafeu e ir embora. Vamos tomar o ônibus para Nova Orleans.'. Embora nunca discutíssemos o que iríamos fazer em Nova Orleans, nem como nos sustentaríamos depois que acabasse o dinheiro do camafeu, nós dois cultivávamos essa fantasia. Talvez os dois soubéssemos em segredo que o broche era apenas uma bijouteria vendida pela Sears Roebuck; ainda assim, para nós ele funcionava como à prova: um amuleto que nos prometia a liberdade, caso de fato decidíssemos tentar a sorte em paragens fabulosas. De maneira que minha amiga jamais usava o broche, pois se tratava de um tesouro precioso demais para que ela corresse o risco de perdê-lo ou danificá-lo."

Truman Capote, em "O Convidado do Dia de Ação de Graças"


Você tem o seu broche?