quarta-feira, 2 de julho de 2008

Maureen

Em 2000, eu tinha 16 anos, estava no segundo colegial, meu sonho de consumo era o CD (What´s the Story) Morning Glory do Oasis e eu era solteira. O vestibular ainda um evento distante, não sabia nem como se inscrever na Fuvest, muito menos qual faculdade cursar (cinema?). Surgiu a oportunidade de monitorar uma exposição de artes (!!!) na Fundação Japão, na Av. Paulista (!!!!) das 13 às 18 hrs. Ou seja, teria que passar em casa, me trocar e voar de casa com o "Aeroportozão" ou o "Terminal Santo Amarão". Mas ok, achei que ia agüentar numa boa, a exposição só iria durar um mês, seria divertido. Ainda mais, conseguiria comprar o CD que tanto queria.

O dia da abertura chegou, e eu usei o meu vestido mais chic; um preto de veludo, que ia até os joelhos, com uma meia calça roxa clara, sapatos pretos. Recepcionaria as pessoas, dando algumas instruções do que elas encontrariam lá dentro, etc etc etc.
Tema da exposição: Teatro Nô. Você sabe o que é isso? É um tipo de teatro japonês. Whatever. Tinha apresentação do Haroldo de Campos. Na exposição tinha também fotos da Maureen Bisilliat. Também não a conhecia.
Eis que ela sai do elevador. Também usava veludo preto, cabelos brancos, sempre sorrindo, muito simpática. Senti pela movimentação no hall que ela era relativamente famosa, ou no mínimo conhecida e respeitada pelo trabalho que desempenhava.

A exposição ocorreu bem. Um pouco parada demais, pois ficava no 7º andar de um prédio comercial na Paulista, onde você tinha que apresentar RG na recepção e tirar fotinho. Mas de vez em quando aparecia algum perdido visitá-la. Dei alguns cochilos inevitáveis na mesa da recepção. O meu despertador era o apito do elevador avisando que ia subir ou descer. Escutava o apito, levantava a cabeça; essa era a tática. Inveja absurda senti um dia quando chegou um boy com um saquinho do Restaurante América para a sala ao lado da minha. Fiquei imaginando: "será um great america? Um fetuccine com molho de 4 queijos?". Até hoje tenho fetiche por aquele saquinho do restaurante. Um dia ainda vou pedir América Delivery no meu trabalho atual.

Enfim, acabei me desviando do assunto. A exposição terminou, eu ganhei meus ricos R$ 150,00. Gastei-os todos na R Augusta no dia seguinte. Comprei:
- O bendito CD do Oasis (que gosto até hoje, me traz prazeirosas lembranças);
- O CD "Do You Like My Tight Sweater" do Moloko, por causa da música Fun For Me que tocava na propaganda de cigarros Luck Strike;
- Um par de sapatos roxo de couro da Banana Price na Al. Lorena (ainda os tenho!);
- Uma blusa branca (esta infelizmente não serve mais).
- Uma regata na loja A Mulher do Padre na Galeria Ouro Fino.

Olha que você poderia até fazer um estudo do poder de compra de 2000 com o de 2008, com tantas coisinhas que eu comprei naquele dia.


Sexta passada, jantei na Pizzaria Braz em Higienópolis. Na minha frente sentava Maureen Bisilliat, com uma moça (que parecia ser sua filha) e um homem. Ela manuseava um cordão prateado, que ora fazia de colar, ora de pulseira. Cabelos da mesma maneira penteados quando a vi pela primeira vez. O mesmo sorriso. De repente fui inundada com todas as lembranças daquele tempo na Av. Paulista em 2000... o envolvimento com arte, o cheiro gostoso do ar condicionado daquele prédio, o saquinho do América, a elegância do vestido de veludo, os meus "sonhos de consumo" comprados com meu salarinho na R. Augusta...

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